logo RCN
CAMPO & CIDADE

Legado de Dona Helena - Onévio Zabot

  • - Onévio Zabot - Engenheiro agrônomo e servidor de carreira da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) - Membro da Academia Joinvilense de Letras

Dia desses manuseava o compêndio: Hospital Dona Helena 100 Anos( -2016). Publicação sobejamente ilustrada. As fotos revelam momentos marcantes da instituição - retratam cenários de ontem e de agora. E transparece ao longo da exposição a grandeza de personagens,muitos personagens: médicos e pessoal de enfermagem, auxiliares e gestores, mas especialmente de mulheres dedicadas ao voluntariado.
Muito amor. Amor à camisa. Diletantismo. E, entre tanto e tantos protagonistas sobressai a figura de Helena Lepper, nascida Trinks. Daí
Hospital Dona Helena, conhecido também como heleneheim (Casa de Helena. Helena, casada com Hermann August Lepper que, além de empresário ousado, destacou-se pela luta em prol das causas comunitárias. Eis, sem sombra de dúvida, um viés marcante da colonização joinvilense, a força do voluntariado. E no caso tela uma iniciativa da Associação Beneficente de Senhoras Evangélicas. Certamente aí desponta umas das razões-chave da pujante prosperidade da terra dos príncipes.

Imaginar aquele grupo de mulheres fazendo frente à instalação de uma unidade hospitalar. Haja coragem! Quanta ousadia, quanto idealismo! Certamente, uma atitude heroica. E lá estavam elas: Helena Lepper, nascida Trinks; Elizabeth Ammon, nascida Wiese; Helena Hygon nascida Ulrichsen; Lilly Tiede, nascida Brandt; Dorothea Bühler, nascida Müller; Else Stein, nascida Krause; Alma Lepper, nascida Nehrmann; Hadwig Schoof, nascida Schlie; Sophie Niemeyer, nascida Lepper; Srta Edmunde Jordan; Mathilde Schlemm, nascida Lange; Srta Emile Hygon e mais oitenta protagonistas.

As irmãs diaconistas - religiosas dedicadas à enfermagem e a educação infantil e a cuidar dos idosos -, deram impulso ao voluntariado. À irmã Ina Hochreuter, pioneira, seguiram-se Lydia Hench e Paula Berghaus, e tantas outras, como Adele Honnecke, Jhoanna Leonhards e tante Elza.
De dedicação incomparável acolhiam jovens, preparando-as não apenas para cuidar dos enfermos, mas sobretudo para encaminhá-las na formação profissional.
Não foram poucos os percalços, no entanto. O mais doloroso - durante as duas guerras mundiais -, houve constrangimentos de toda a
sorte. As irmãs foram desalojadas. Houve intervenção. Desastrosa, diga-se de passagem. Nada, no entanto, abalou a coragem dos protagonistas. Superado conflito, seguem incólumes na exitosa jornada.

E Maria Carola Keller, então, com certeza simboliza o supra sumo do voluntariado. Dedicou a vida inteira à instituição que tanto amou. E com que carisma. Incansável, sempre presente, acolhia a todos com gratidão e carinho. Arinor Vogelsanger, de saudosa memória, reportava-se a ela como um ícone da simpatia. Pessoa referência, cujo carisma, no bom sentido, contagiava a todos.

Memorável, segundo Verônica Miers, interna na década de 1960, era a comemoração de natal. Jantar à luz de velas. Inesquecível. Os enfeites vinham da Alemanha. E os aniversários, então, sempre comemorados com pompa. Mesa em forma de "U". Quem aniversariava sentava-se ao lado da irmã superiora no meio da mesa, uma honra. Música de fundo.

Som de vilão. Ah, logo cedinho a serenata, às 6 horas da matina. E o café, sortido café, as 7:30 horas. Momentos inesquecíveis e muito aguardado pelo aniversariante. Presentes não faltavam ao aniversariante que ao recebe-los os abria e os apresentava. Aplausos. Euforia.
Ângela Maria Miers, irmã da Verônica também esteve por lá. As internas procedentes de várias regiões, rapidamente enturmavam-se.
Adolescentes e inquietas, vinham as travessuras. Por exemplo: espantar as galinhas no cercado. Como muitos pacientes pagavam as contas entregando suínos e aves, ali havia um ambiente de abriga-los.

E pouco a pouco, conforme a necessidade, eram abatidos. No caso dos perus, uma cachaça servida antes do abate amolecia a carne. Abatê-las, tarefa nada lisonjeira. Mas, como tudo se aprende, rapidamente as internas estavam aptas para a refrega. É claro, não sem lances de ousadia. No dormitório, conta Verônica, as irmãs tiveram que pregar tábuas nas janelas. Uma pensão de rapazes ao lado, instigava o hormônio das jovens.

Mas os piqueniques até Campo Alegre ou Curitiba, viagens memoráveis. Sempre de combi. Estradas de chão batido nem sempre bem
conservadas. Paciente motorista, bom vionolista animava o grupo. Alegria. Ah, a família Keller tinha um sítio em Campo Alegre, lugar preferido da turma. Lá colhiam um tubérculo ao inhame, cujo talo era muito apreciado. Cozinhavam com açúcar besuntando as cucas.
E tinha a chácara Alpina da família Boehm, na Vila Nova. Frutas à vontade. Coleção preciosa de laranjeiras, tangerinas e bergamotas, e de espécies tropicais como a canela, originária da Índia, carambolas e jambos.E jabuticabeiras. E pitangas.

Falar, portanto, do Hospital Dona Helena faz bem. É luz. Que o diga Udo Döhler, presidente emérito do conselho deliberativo e demais
voluntários que hoje levam adiante a chama dos idealizadores. Fica, portanto, o inestimável legado: o trabalho voluntário sempre fez
e sempre fará a diferença. Abençoados sejam aquele que o praticaram e praticam, nobre gesto de solidariedade. E a casa de Helena (heleneheim), hoje hospital de referência, orgulha joinvilenses e catarinenses.



15 anos de uma conquista histórica - José Zeferino Pedrozo Anterior

15 anos de uma conquista histórica - José Zeferino Pedrozo

Números do espetáculo - Roberto Dias Borba Próximo

Números do espetáculo - Roberto Dias Borba

Deixe seu comentário